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19 de abril de 2024

Em três anos, Maia se desgastou pouco politicamente


Por Victor Simião/CBN Maringá Publicado 20/11/2019 às 13h56 Atualizado 25/02/2023 às 01h28
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Caminhando para o último ano de mandato, o prefeito Ulisses Maia (PDT) não viveu grandes crises políticas no cargo – o que pouco desgastou a imagem dele perante a cena política. De 2017 até agora, foram registradas situações pontuais de atrito entre a gestão dele e alguns políticos – pelo menos publicamente.

Na Câmara de Vereadores, o principal adversário de Maia saiu neste ano. É Homero Marchese (Pros), hoje deputado estadual. Eleitos na mesma chapa na eleição municipal, a situação começou a mudar ainda em 2017. Marchese começou a fazer críticas à forma de governo de Maia. O parlamentar dizia que era pouco transparente e intransigente.

O PV, sigla a qual Marchese estava filiado, era e é um partido aliado de Maia. O diretório municipal abriu um processo de cassação de mandato internamente. Além disso, a sigla conseguiu a criação de uma comissão processante dentro da Câmara para investigar o então vereador, ainda em 2017. Após uma série de sessões, a CP foi anulada pela Justiça em 2018. Marchese diz que as críticas surgiram após ele notar o que ele chama de populismo de Ulisses Maia.

“Eu comecei a observar a administração e comecei a ficar preocupado de que aquilo que era falado na campanha não iria se realizar. Comecei a ver uma administração muito lenta na solução de problemas e extremamente populista. Tanto que hoje, três anos depois, a gente vê a situação das contas públicas, muito deterioradas em Maringá, que está despencando em vários rankings. O endividamento da cidade está aumentando bastante. E aquilo foi me chamando a atenção e eu falei: ‘Opa, eu não fui eleito para isso. Não era isso que eu imaginava que aconteceria’. E comecei a apontar esses problemas, como uma maneira de alertar a sociedade. Infelizmente, eu não fui reconhecido como oposição. O objetivo não era tolerar que eu falasse, mas me eliminar do jogo político, e aí veio toda aquela história”, diz o deputado. 

No ano passado, em outubro, houve um outro momento de tensão. Um ex-assessor teve um áudio divulgado. Era um registro de conversa entre ele e um irmão do prefeito de Maringá. Esse assessor, que tinha sido exonerado, informava ter obtido R$ 500 mil via caixa 2 para a campanha eleitoral, em 2016.

Ouça o áudio

Depois, ele divulgou um vídeo dizendo que tinha bebido demais e ingerido remédios , e que era uma brincadeira. A prefeitura, na época, emitiu nota dizendo estar aberta a explicação e reforçou que o próprio ex-assessor havia dito se tratar de uma brincadeira.

Uma CPI chegou a ser proposta na Câmara de Maringá, mas não foi adiante. Alguns vereadores protocolaram um pedido de investigação no Ministério Público de Maringá. A informação, agora, é a de que um inquérito está na Polícia Federal.

Câmara atual

Na Câmara de Vereadores, dos 15 parlamentares, atualmente quatro podem ser considerados como, se não de clara oposição, pelo menos de fora da base do prefeito: Chico Caiana (PTB), William Gentil (PTB), Doutor Jamal (PSL) e Jean Marques (PV). Esse último foi até o início deste ano o líder de Maia na Câmara, mas deixou o posto.

Esses vereadores são os mais críticos ao Governo Maia – postam vídeos nas redes sociais e fazem discursos contrários a algumas decisões da prefeitura.

Por outro lado, nesse período, a gestão Maia conseguiu trazer para o lado deles os vereadores Alex Chaves – que se filiou ao MDB recentemente, comandado agora pelo vice-prefeito Edson Scabora; e Odair Fogueteiro, que se filiou ao PDT, presidido em Maringá pelo secretário de Recursos Humanos da prefeitura, César França. Esses dois parlamentares foram eleitos na chapa do adversário de Maia na campanha, o ex-prefeito Silvio Barros. Chaves, aliás, se tornou o líder do Governo na Câmara.

“Dentro de casa”

Dentro do Paço Municipal, algumas secretarias passaram por mudança, mas que não resultaram em algum tipo de crise. As saídas de Aracy Reis, da pasta da Mulher em 2018, e de Valkiria Trindade, da Educação, em fevereiro de deste ano, movimentaram as rodas políticas.

Aracy emitiu nota dizendo ter sido demitida por decisão política. Valkiria não quis se pronunciar oficialmente, mas a informação de bastidor é de que os problemas com a falta de vagas em creche e a denúncia de assédio sexual envolvendo um professor foram as razões que desgastaram o trabalho dela na pasta.

A Secretaria de Gestão teve três secretários antes de o atual, Clóvis Melo, assumir o posto. Orlando Chiqueto segue na Fazenda desde o início, assim como Domingos Trevisan, na chefia de Gabinete do Prefeito. Os dois são considerados os mais fiéis a Maia – defendendo medidas do prefeito que, vez ou outra, são criticadas publicamente.

Dos políticos que passaram pela gestão, pelo menos um se tornou crítico feroz: o advogado Eliseu Fortes Alves. Ele atuou no mandato como diretor de Gabinete e Controlador Geral, mas saiu em outubro de 2017. Desde então, vem fazendo duras críticas à Prefeitura e já disse ser pré-candidato à Prefeitura de Maringá. À CBN, Alves afirma estar completamente decepcionado, e que a administração prometeu muito e fez pouco.

“O prefeito prometeu em campanha construir dez creches no primeiro ano. Nós já estamos terminando o terceiro ano e vai terminar o mandato e as dez creches não serão construídas. [Sobre] diminuição de filas, a atual gestão só trocou as filas: acabou, num primeiro momento, com as de consulta e colocou nos exames. Morador em situação de rua zero, qualquer um lembra que isso era prometido e cantado, que Maringá ia ser uma cidade com morador em situação de rua zero. Você vê como está, é só dar uma volta. Absoluta decepção e uma constatação: Maringá não aguenta oito anos com o atual gestor”, garante o advogado.

Outro que passou pela gestão e diz ser pré-candidato é o advogado Rogério Calazans. Ele chefiou o Procon e a Secretaria de Gestão. Saiu neste ano, alegando motivos pessoais. Calazans não costuma criticar publicamente a atual administração.

Por parte do grupo político do deputado federal Ricardo Barros, adversário da eleição passada, a relação tem sido cordial, sem críticas ou ataques públicos. Tanto Maia quanto Barros dizem que querem o melhor para a cidade.

Publicamente, Maia disse várias vezes que o trabalho era para a população como um todo. Um exemplo: no segundo turno da eleição presidencial em 2018, ele não declarou apoio público. Mas, após a vitória de Jair Bolsonaro, disse que era um sinal de mudança dado pela população.

Quando questionado pela CBN se não tinha medo de ser rechaçado por membros do PDT e de grupos mais à esquerda em Maringá, que deram suporte para a eleição dele em 2016, o prefeito disse que o foco é a cidade, não grupos ideológicos.

“O apoio foi muito grande em Maringá, de várias tendências partidárias, de várias pessoas. Inclusive, a questão da mudança, que foi consolidada com Jair Bolsonaro. E ser candidato numa campanha sem estrutura, sem partidos políticos e sem grandes apoios começou com a nossa aqui em Maringá, iniciamos esse processo de mudança. Eu não vejo nenhum nas questões de apoio, até porque eu não trabalho para atender grupos políticos, econômicos ou ideológicos, eu trabalho pelo interesse da maior parte da nossa população.”

Qual o principal adversário político?

A reportagem da CBN Maringá tentou ao longo dos últimos dias gravar uma entrevista com Ulisses Maia sobre a série de reportagens produzidas pela emissora. O convite não foi aceito.

Apesar disso, em um café da manhã com jornalistas, realizado na semana passada no Paço Municipal, uma questão não pôde faltar ao prefeito. Na avaliação dele, qual é o principal adversário político: o deputado estadual Homero Marchese ou o Observatório Social de Maringá?

É que Observatório tem sido crítico à administração. Em vários momentos a entidade disse que o município não tem apresentado como deveria as licitações. A organização também já apontou preocupação com gastos, por exemplo, com a Maringá Encantada, o natal realizado pelo poder público. O governo municipal, por outro lado, afirma que é investimento para a população e que tem havido retorno financeiro.

Homero Marchese ou Observatório Social? A resposta de Ulisses Maia foi a seguinte: “Eu não sei dizer quem é a figura de oposição porque eu não trabalho com situação e oposição. Na Câmara tem 15 vereadores, eu respeito os 15. Tenho sancionado os projetos aprovados de todos os vereadores. Então, eu não sei dizer quem seria a oposição.[É] melhor a população julgar”.

A pouco menos de um ano para a eleição, ainda há muita movimentação no tabuleiro da política local.

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