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19 de abril de 2024

Quando tudo passar


Por Elton Tada / Passeio Publicado 27/03/2020 às 16h00 Atualizado 23/02/2023 às 15h16
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Estamos passando por um momento diferente. Não é sempre que o mundo todo se une em torno de um vírus. Aliás, normalmente não nos unimos por nada, vivemos separados, fragmentados, tão isolados quanto nos seja confortável. Mas, quando tudo está normal, fingimos que tudo está bem, mesmo não estando. E, agora, que não podemos fingir que está tudo bem, não sabemos como viver.


Vamos fazer um exercício bem simples. Quando tudo isso passar, qual a primeira coisa que você deseja fazer? Quando pudermos encher os supermercados normalmente, quando não vivermos assustados com a possibilidade de nos infectarmos a cada passo de nosso cotidiano, como ficarão as coisas? Vai demorar um tempinho, mas tudo voltará a ser como é normalmente, só que diferente. Voltará a ser normal porque a estrutur continuará sendo a mesma. Algumas pessoas tem empregos, outras não, algumas tem comida armazenada, outras nem tanto. Algumas podem trabalhar em casa, outras tem que trabalhar na rua. Algumas pessoas, ao morrerem, geram comoção, outras não geram quase nada. Tudo voltará ao normal.


Ao mesmo tempo, algumas coisas serão diferentes. Teoricamente, nós finalmente temos a prova final de que nosso sistema de divisão de riquezas não funciona. Sim, o capitalismo deu errado. O neoliberalismo deu errado. Todas as grandes economias do mundo estão injetando dinheiro no mercado apesar de defenderem a máxima de que o Estado não pode interferir. O american way of life será sustentado com um programa inicial de dois trilhões de dólares. Mas já se estima que a interferência total do governo estadounidense seja algo acima de cinco trilhões. Ao mesmo tempo, nos países considerados subdesenvolvidos e em desenvolvimento a população pobre aposentada está sendo massacrada.


Estamos vivendo dias em que podemos ver o tempo todo no noticiário grandes empresários com medo do prejuízo enquanto os pobres reclamam que não tem água e sabão para higienizar as próprias mãos. Se você acha que esse é o jeito certo de se viver, que as coisas são assim mesmo e cada um tem que defender seu próprio lucro, sinto muito, mas você não está bem. E, sinceramente, não te desejo algum mal por isso. Desejo apenas que você se cure, que se torne minimamente humano, e que Deus tenha misericórdia de sua existência nojenta.


Quando tudo isso passar, teremos duas opções. A primeira é continuar fingindo que esse mundo está ok. A segunda é fazer valer o status de ser humano e construir uma nova forma de viver, onde não seja normal deixar nossos pobres morrerem em seus barracos sem água e sabão, onde não se negocia a saúde do trabalhador com o lucro do empregador, onde o dinheiro de alguns não importe mais que a vida de muitos.


Afinal, me diga, o que faremos quando tudo isso passar?

Pauta do Leitor

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