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18 de abril de 2024

Classe média


Por Elton Tada / Passeio Publicado 15/08/2019 às 20h00 Atualizado 23/02/2023 às 21h50
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Essa não é uma crônica sobre política. Também não é uma crônica sobre economia. É só mais uma crônica qualquer, que não precisa atingir um objetivo, e que ao contrário da classe média, não deve nada a ninguém. Mas a classe média sempre está devendo alguma coisa. Um carro, uma casa, uma televisão de 238 polegadas, uma reforminha na cozinha, uma viagem para usar a piscina do hotel na beira da praia e assistir aos mesmos programas só que deitado numa cama diferente. E essa é a parte média da classe média. Existe uma mais baixa que ainda está estudando ou prestando serviço para um dia poder ficar devendo um pouco mais e ter, finalmente, uma televisão maior.


O que mais vejo nas redes sociais são jovens reclamando dos boletos. Mas eu sei que essas reclamações são puramente retóricas, uma forma de dizer que se consome. A classe média é sedenta por consumir. E, como não controlamos bem o consumo acabamos aumentando o ciclo de lucratividade do mercado, pois além de pagar pelo lucro sobre o produto ou serviço propriamente dito, pagamos pelo lucro do crédito do mercado financeiro.


A vida é ao mesmo tempo uma maravilha e uma tormenta. Mesmo assim, além dos problemas naturais da vida, produzimos outros problemas e nos orgulhamos deles. E todos esses problemas servem pra nos entreter tanto que acabamos esquecendo de identificar o que realmente somos.

E a verdade é que a grande burrice da classe média reside justamente no fato de não perceber que não é nada rica. Quem foi que disse que trabalhar muito para ter um salário e conseguir consumir algumas coisas é sinal de riqueza e sucesso? Riqueza, meu amigo, é quando você não precisa se preocupar com dinheiro, pois independentemente do que você faça seus recursos não vão acabar. Contar as moedas pra trocar de carro, entenda, é ainda coisa de pobre, mesmo que seu carro seja muito muito caro.


Se apenas identificássemos no cotidiano a presença de nossa própria pobreza, seria muito mais fácil aceitar e relevar a pobreza do outro. Quando alguém te pede um dinheiro na esquina, você pode dar ou não, achar isso certo ou errado, tanto faz, mas sempre será errado se você julgar a pessoa que te pede, se você se achar melhor do que aquela pessoa. A dignidade da existência não depende da nossa capacidade de consumo.


Quando chegar ao fim, no último momento da sua vida, duvido que sentirá falta das coisas que consumiu. Nem que seja no final, mas temos que entender o que realmente nos importa. Qualquer hora teremos que aceitar que não somos tudo isso. Economicamente, classe média, não somos nada demais. Na verdade, somos bem risíveis.

Pauta do Leitor

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