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18 de abril de 2024

MOSTRA SP 2019 – DIA #5


Por Elton Telles Publicado 29/10/2019 às 17h27 Atualizado 25/02/2023 às 05h37
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Segue a todo vapor a nossa cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Abaixo seguem resenhas de três filmes que tem em comum o fato de terem sido dirigidos por mulheres. Tratam-se dos títulos “Deus é Mulher, Seu Nome é Petúnia”, da Macedônia, um dos filmes que estavam em competição no Festival de Berlim; também vindo de outro festival, o de Cannes na Mostra Un Certain Regard, tem o candidato argelino ao Oscar 2020, “Papicha”; e pra finalizar, o agradável e divertido “Final Feliz”, da Dinamarca.

DEUS É MULHER, SEU NOME É PETÚNIA
Origem: Macedônia
Direção: Teona Strugar Mitevska

“Deus é Mulher, Seu Nome é Petúnia” narra um conto de verve feminista ao esboçar uma queixa bem articulada sobre os visíveis privilégios do sexo masculino em diferentes esferas sociais. Nem o âmbito religioso escapa ao afiado roteiro, que, a propósito, direciona todos os argumentos para visibilizar o machismo nas convenções conservadoras da Igreja Católica. A trama se desenrola em uma pequena cidade, onde acontece anualmente um ritual em que o padre local joga uma cruz de madeira no rio e centenas de homens mergulham atrás do objeto. Desta vez, a impetuosa Petúnia mergulha na água e consegue pegar a cruz antes dos outros. Seus concorrentes ficam furiosos: como uma mulher ousa participar da cerimônia? A situação sai do controle na comunidade, mas Petúnia se mantém firme e não irá desistir tão fácil da cruz.

Bem humorado, mas nervoso quando é necessário elevar o tom, “Deus é Mulher, Seu Nome é Petúnia” especula a abertura de oportunidades às mulheres, consequentemente esbarrando em questões como autoestima e igualdade dos gêneros. Sobretudo, o script se mostra bastante engenhoso nas analogias dos dogmas cristãos com as barreiras que as mulheres enfrentam no mundo atual, precisando sempre se destacar além da média para receberem algum êxito. Em seu primeiro trabalho como atriz, a jovem Zorica Nusheva se firma como um símbolo de transgressão no papel da personagem-título, entregando uma atuação bem dosada e espirituosa. Uma agradável surpresa.

 

 

PAPICHA
Origem: Argélia/França/Bélgica/Catar
Direção: Mounia Meddour

Em uma Argélia tomada pela guerra civil nos anos 1990, Nedjema é uma jovem universitária que não abaixa a cabeça para as censuras dos grupos armados e se recusa a deixar que os conflitos do país minem o seu sonho de ser estilista. Como ato de resistência, a estudante luta pela própria liberdade e decide organizar um desfile com diferentes modelos de hijab, o véu que a cultura muçulmana obriga as mulheres a vestirem. Produção ambiciosa e com boas intenções, como a busca pela independência em uma realidade opressiva para as mulheres, “Papicha” infelizmente não decola principalmente pela condução exagerada da diretora estreante Mounia Meddour, que também assina um roteiro frágil e inconsistente.

As condições nada favoráveis para os opositores são bem tracejadas no filme, no entanto, o enredo deixa a desejar pela ineficiência, forçando situações ameaçadoras que pouco ofereceriam perigo eminente às personagens da história. Isso não quer dizer que “Papicha” não tenha cenas bem aproveitadas e catárticas, porém o seu maior pecado, e que estrangula todo o desenrolar da trama, é a mão excessivamente pesada de Meddour, responsável por desdobramentos tortos que beiram o inverossímil em passagens importantes. Como agravante, a atriz Lyna Khoudri não demonstra maturidade dramática para encarar uma protagonista tão sofrida e exigente.

No fim, “Papicha” é um projeto promissor que fica muito aquém do que poderia alcançar. Um pouco de moderação lhe cairia bem.

 

 

FINAL FELIZ
Origem: Dinamarca
Direção: Hella Joof

Pense na diretora Nancy Meyers, de produções como “Alguém Tem que Ceder” (2003) e “Simplesmente Complicado” (2009), ambas sobre romance na terceira idade. Estrelados por atores renomados capazes de inserir alguma graciosidade a ponto de torná-los simpáticos, os filmes citados se bem analisados são exemplos de caretice aguda com verniz de descolado. Mais graves são os tratamentos atribuídos a certos personagens com idade avançada, reduzidos a arquétipos infantilizados para soarem mais palatáveis ao público. Do outro lado do Atlântico, o que a diretora dinamarquesa Hella Joof alcança com o delicioso “Final Feliz” é exatamente o oposto, e por isso, muito mais convincente.

“Final Feliz” começa com o fim de um casamento. Após 49 anos de matrimônio, o marido recém-aposentado decide seguir novos rumos, deixando a esposa sem chão com o rompimento. Eles iniciam, cada um à sua maneira, uma jornada de descobertas, repleta de novas oportunidades, problemas e sonhos. Os intérpretes do casal central, Kurt Ravn e Birthe Neumann, estão excelentes e defendem seus papeis com carisma, além de exibir boa química em cena. “Final Feliz” é um feel good movie proveitoso, exibe um olhar afetuoso para a terceira idade e, de quebra, é uma rajada de ar fresco no retrato de personagens mais velhos no cinema.

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