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20 de abril de 2024

MOSTRA SP 2019 – DIA #2


Por Elton Telles Publicado 19/10/2019 às 20h54 Atualizado 25/02/2023 às 03h20
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Segundo dia de cobertura da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo traz resenhas do decepcionante “Wasp Network”, último filme assinado pelo cineasta francês Oliver Assayas, um dos homenageados da Mostra SP. A produção que traz Wagner Moura no papel de um rebelde cubano é acompanhada nesta postagem do documentário fruitivo de Aretha Franklin, “Amazing Grace”, e o revoltante conto de xenofobia na Europa Oriental, “Oleg”.

WASP NETWORK
Origem: França/Brasil/Espanha/Bélgica
Direção: Olivier Assayas

Adaptação de “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, do romancista brasileiro Fernando Morais, “Wasp Network” é ambientado no início dos anos 1990 e narra a trajetória de três cubanos desertores e radicados em Miami, unidos pelo mesmo objetivo político de desestabilizar o regime comunista de Fidel Castro. A história por si só é excelente e renderia um grande filme de espionagem, porém é um mistério o que se sucedeu com o diretor Oliver Assayas para entregar uma produção tão aquém de seu comprovado talento. O mais frustrante é perceber que todas as cenas importantes estão presentes no resultado final, e depois se dar conta que “Wasp Network” revela uma lógica de estrutura dramática totalmente desconjuntada. Esse é o seu maior pecado. O descuido da montagem, creditada a Simon Jacquet, assassina toda a relevância da trama, substituindo o interesse inicial do público por uma sucessão de cenas desencontradas, sem sentido. Do mesmo mal, padece o roteiro: a princípio animador, mas não demora muito para se afogar num oceano de tédio.

O elenco, que conta com Wagner Moura em um dos papeis centrais, é iluminado pela atuação da espanhola Penélope Cruz, presenteada com a personagem mais bem esboçada. De resto, apesar dos bons desempenhos dos atores, não passam de personas pouco originais, mal desenvolvidas e abandonadas na trama. Dizem que o filme voltará à sala de edição para receber uma repaginada, principalmente após as críticas negativas no Festival de Veneza, onde concorria ao Leão de Ouro. Espera-se que o saldo saia do vermelho, pois conteúdo bom “Wasp Network” tem, mas nesta versão é apresentado de maneira fraturada e até incoerente.

 

AMAZING GRACE
Origem: Estados Unidos
Direção: Alan Elliott

Em 1972, já ostentando 5 prêmios Grammy®, a cantora Aretha Franklin resolveu fazer algo diferente: abriu mão do ritmo soul que a consagrou para retornar às origens e gravar um disco com canções religiosas. Assim nasceu “Amazing Grace”, o álbum do gênero gospel mais vendido de todos os tempos. O documentário é composto integralmente com os registros das filmagens, feitas com câmeras 16mm, em uma igreja de médio porte em Los Angeles. O que o diretor Alan Elliott faz é delinear uma narrativa com o material bruto, conduzido na época pelo já falecido cineasta Sidney Pollack sob contrato com a Warner Brothers.

Embora a captação soe bastante amadora, com ângulos pouco atraentes e uma montagem imperfeita, é humanamente impossível o espectador não ser afetado pelo êxtase e entusiasmo que predominam naquele espaço quando Aretha solta a voz. É lindo e emocionante observar as reações mais diversas da comunidade negra, em um período de constantes lutas pelos Direitos Civis nos EUA. Não só a plateia vem abaixo, como também os membros do coral que a acompanha e o reverendo do templo, verdadeiramente comovidos com a potência da cantora.

A não ser ao final da apresentação para agradecer os presentes na igreja, Aretha Franklin não profere uma palavra sequer, e assim, o documentário opta por tornar o sujeito oculto para centralizar todo o protagonismo no poder arrebatador da música.

 

OLEG
Origem: Letônia/Bélgica/Lituânia/França
Direção: Juris Kursietis

Pela evidência de casos nos últimos anos envolvendo imigrantes africanos em embarcações clandestinas rumo à Europa, o cinema contemporâneo já se encarregou de transportar muitas dessas histórias para as telonas. “Oleg” também enfoca na busca de melhores oportunidades em um país economicamente mais desenvolvido, todavia sem o deslocamento intercontinental. Permanecendo na Europa, o jovem Oleg deixa a falida Lituânia para ir uma Bélgica aparentemente promissora, e lá vai trabalhar em uma transportadora de carnes. Quando perde o emprego por uma injustiça qualquer, surge o bondoso Andrzej, que lhe oferece pouso e novas oportunidades de ganhar dinheiro. Ao aceitar o convite, o protagonista, ingênuo como um cordeiro, sequer desconfia que entraria em um espiral de crimes, chantagens e ameaças de morte.

Retrato duro das condições miseráveis em terras estrangeiras, “Oleg” é um filme psicologicamente violento que escancara os sintomas mais perversos da xenofobia e exploração da mão de obra barata – ou escrava, nesta situação. A história se aprofunda em uma Europa arrasada e predatória, longe da idealização, e segue os passos em direção incerta de um sujeito passivo e ignorante, que não alimenta grandes ambições, a não ser ter uma vida digna com o suor do seu trabalho. O traço do personagem é muito bem afinado pelo roteiro, coescrito pelo diretor Juris Kursietis, responsável pela incômoda aflição que perdura até os créditos finais.

Guiado por um desempenho excelente de Valentin Novopolskij como o personagem-título, “Oleg” conquista pelo tom incisivo e crueza das passagens. Um conto difícil de acompanhar e ainda mais complicado de digeri-lo.

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