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20 de abril de 2024

MOSTRA SP 2019 – DIA #1


Por Elton Telles Publicado 18/10/2019 às 01h43 Atualizado 25/02/2023 às 02h24
 Tempo de leitura estimado: 00:00

É dada a largada da 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, um dos principais eventos do calendário cinematográfico brasileiro. Em duas semanas de sessões sequenciais, serão exibidos no total 327 filmes vindos de 65 países, entre lançamentos, títulos clássicos, representantes do Oscar e exemplares premiados nos principais festivais.

A maioria das produções que compõem a programação do evento sequer são distribuídas comercialmente no Brasil, seja no circuito de cinema ou canais de streaming. Portanto, a Mostra SP é uma das poucas oportunidades – quando não a única – de conferi-las.

Esta é a 6ª vez que participo da Mostra SP e faço cobertura dos longas vistos com breves resenhas. Nesta primeira postagem, viajo pela França contemporânea com um drama de tribunal, pulo para a chuvosa Singapura e finalizo o trajeto na Polônia invernal dos anos 1930.

Que comece a maratona!

A GAROTA COM A PULSEIRA
Origem: França
Direção: Stéphane Demoustier

Acusada de matar a melhor amiga, a adolescente Lise passa seus dias em prisão domiciliar usando uma tornozeleira eletrônica – a “pulseira” do título. No fórum de justiça, ela enfrenta a condenação com provas insuficientes sobre a evidência do assassinato, mas ainda assim, a autoria do crime pesa contra ela por conta do estilo de vida libertário que leva. Fortalecido por um roteiro afiado, “A Garota com a Pulseira” se revela um filme bastante incômodo pelo conservadorismo latente que incide sobre as decisões nos tribunais, que se apropriam de juízos de valores nem sempre concretos e quase sempre moralistas para bater o martelo se um réu é ou não culpado. Um verdadeiro festival de machismo e preconceito nivela o julgamento da personagem-título, defendida com segurança pela novata Melissa Guers em seu primeiro papel no cinema.

O tom instigante da narrativa é bem instituído pelo diretor Stéphane Demoustier, que mantém a atmosfera pesada e o espectador envolvido até os créditos finais. Sem desfoques ao tema central, “A Garota com a Pulseira” é um drama de tribunal simples, eficiente e aflitivo.

 

ESTAÇÃO DAS CHUVAS
Origem: Singapura
Direção: Anthony Chen

Após a estreia em longas-metragens com o belo “Quando Meus Pais Não Estão em Casa” (2013), o jovem cineasta Anthony Chen retorna com mais um conto singelo e rotineiro que discorre no âmbito familiar à la Edward Yang. “Estação das Chuvas” acompanha o dia a dia de uma professora de chinês, cujo casamento e vida profissional estão se desfazendo pela sua incapacidade de gerar um filho. Eis que ela encontra conforto na boa vontade de um de seus alunos, que a ajuda a reafirmar sua identidade. Estabelecida a conexão, o roteiro assinado por Chen se desenvolve com inesperada ambiguidade: afinal, este envolvimento entre professora e aluno seria uma forma de ela preencher a lacuna deixada pela maternidade ou algum tipo de interesse amoroso? O quão de acolhedor e de doentio tem esta aproximação?

Trabalhando com esta linha tênue, a trama avança e vai soltando pistas, utilizando de forma assertiva a simbologia da chuva, metáfora para mudanças e transformações. O filme é talhado em sutilezas e elabora um discurso bastante curioso sobre honrar o tradicionalismo, que, refletido nas ações controversas da dupla, soa no mínimo paradoxal. Todavia é impossível não se afeiçoar à personalidade de cada: ela é uma mulher infeliz, solitária e de falar pouco, já o garoto é esforçado, protetor e procura uma forma de suprir a falta de afeto dos pais ausentes. A “cumplicidade” entre os personagens em “Estação das Chuvas” pode escandalizar ou provocar aversão, mas fica registrado como contemplação o alento e simplicidade como matérias-primas do diretor para construir aos poucos essa improvável e bonita união.

 

MR. JONES
Origem: Polônia/Ucrânia/Reino Unido
Direção: Agnieska Holland

A história contada em “Mr. Jones” é soberba. Inspirado em um episódio verídico que aconteceu em 1933, poucos anos antes da ascensão do Nazismo, o jornalista britânico Gareth Jones vai até à União Soviética documentar as barbaridades por trás do regime ditatorial de Josef Stalin. Sua ambição valeu a própria vida, mas desmascarou o que muitos cegamente consideravam um governo exemplar, disposto a ouvir o povo. É lamentável, no entanto, que este caso extraordinário tenha recebido um tratamento engessado pelos seus realizadores. Pra começar, “Mr. Jones” é muito chato. A trama demora para engrenar e demanda certa paciência do espectador, que é metralhado de diálogos pobres e situações pouco empolgantes, ao contrário do que pensa a trilha sonora, que se esforça para parecer tudo muito extasiante.

O roteiro como um todo não contribui e vai mostrando sinais de canso até descambar de vez no conto do herói que desafia tudo e todos pelo comprometimento com a verdade. Liderado por uma boa entrega de James Norton como o personagem-título, “Mr. Jones” não está nem de longe entre os melhores trabalhos da veterana Agnieska Holland, uma cineasta de currículo vasto e interessante, mas que a cada lançamento, demonstra inevitável flerte com o tradicionalismo do cinema norte-americano. Este novo filme só confirma a tendência.

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