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23 de abril de 2024

Mes Amis


Por Victor Simião Publicado 07/02/2019 às 15h00 Atualizado 19/02/2023 às 22h29
 Tempo de leitura estimado: 00:00

A leitura de “Só garotos”, de Patti Smith, tocou meu coração. A cantora, autora do magnífico disco “Horses” (1975), descreve a amizade entre ela e Robert Mapplethorpe nessa comovente biografia publicada no Brasil pela Companhia das Letras. Os dois se conheceram no final dos anos 1970, nos Estados Unidos. Apaixonados pela arte, cada um seguiu o próprio caminho após um breve romance. Ela, como precursora do punk e poeta; ele, após se assumir homossexual, como fotógrafo.

Amizade intensa e a busca pela arte são dois dos temas presentes no livro. Tais tópicos me fizeram pensar em meus amigos, e daí veio o título dessa crônica. Em francês, “Mes Amis” significa “Meus Amigos”, conforme o dicionário clássico do idioma. Utilizei as palavras na língua de Rimbaud e não na de Machado de Assis menos por necessidade do que por vontade de chamar atenção.

É tipo quando aquele seu amigo publica uma foto sem camiseta no Instragram e cita Jean-Paul Sartre na legenda. Em busca de curtidas para o peitoral nu e para o bíceps recheado de batata doce e outras comidas reservada aos bombadões, ele também quer soar filosófico.

O inferno são os ovos, eu digo aos ratos de academia que povoam as redes sociais, numa adaptação sartreana-monstrona.

Pensando em minha própria vida, percebi que em alguns momentos eu já tive uma amizade como Patti Smith teve com Robert Mapplethorpe. Assim como no caso dos artistas, a vida entre mim e essas pessoas tomou rumos diferentes – apesar de nenhum de nós ter se tornado relevante artisticamente. Por elas, não digo nada. Quanto a mim? Sou o último dos cronistas menores desta província!

Sim, há aquelas pessoas que se foram; mas há também as que ficam, que ficaram, e que são intensamente apaixonados pela arte e buscam viver dela, viver para ela.

Eles são incríveis, cada um de maneira própria. Minha admiração por esses amigos passa pelo corpo, pela alma, chega ao espírito. É transcendental. Para esse grupo, gostaria de fazer uma festa à moda Zeca Pagodinho, com cinco mil litros de chope. Como não posso – os recursos são escassos e o tempo, ai de mim!, é curto -, dedico a eles as seguintes palavras: “I Love You” – que em francês significa Morena, segundo o Auto da Compadecida.

Batalhadores, meus amigos correm atrás dos sonhos. Quase todos têm duas ocupações: a que dá dinheiro, banca a casa e a comida, e a artística. Aliás, eles chegam a ter três trabalhos: um deles é o de conversar comigo – o que não é fácil. É saber que, entre outros tópicos, passaremos pelo politburo do Partido Comunista Chinês, transitaremos por algum livro bíblico, citaremos É o Tchan, Raça Negra, Milionário e José Rico, o preço da gasolina e os contos de Dalton Trevisan. Muito provavelmente, terminaremos a noite no Karaokê do Tatá.

Mau amigo que sou, às vezes eu não lhes digo como sou fã de cada um; como admiro trabalho eles desenvolvem. Por uma série de motivos – e aqui vai o meu mea culpa – eu não compartilho muitas das ações deles nas redes sociais de modo público, com exceção do Twitter.

Está crônica, no fim das contas, é um pedido de desculpas por isso. É, também, uma tentativa de mostrar o quão importante cada um deles é para mim e para a arte em Maringá. Ah, claro, serve para agradecer a Patti Smith pelo ótimo “Só garotos”, livro que mostrou a importância de uma amizade.

Por aqui, falarei apenas sobre os meus amigos que produzem e buscam a arte em Maringá, ao ponto de às vezes terem perrengues financeiros. É para que eles saibam que eu estou aqui; é para que os leitores saibam da existência deles. É para dar nome e rosto aos que têm feito dessa cidade uma ilha cultural em meio ao pântano artístico chamado Brasil.

Se aqui me restrinjo a falar necessariamente sobre as pessoas abaixo é porque considerei necessário mostrar ao mundo (ó pretensão!) a importância de cada uma delas tem em minha vida e em Maringá.

Sim: esses meus amigos têm nome e sobrenome. Vamos aos nomes, sem ordem alfabética ou de preferência.

Maria Almeida: é a responsável pelas camisetas com temas literários que vez ou outra uso nos botecos da vida. Além disso, ela há pouco tempo abriu comércio próprio, e organiza o Leia Mulheres – Maringá.

Estela Santos: é dela o excelente blog Lendo os Contemporâneos. Ela, assim como Maria, coordena o Leia Mulheres – Maringá, agitando a cena literária local.

Thays Pretti: escritora de mão cheia. Além de ótima cronista, organizou alunas para que escrevessem e publicassem. Em busca da arte, ela e uma amiga têm uma empresa para ajudar quem quer escrever ou revisar textos. É a Verso Texto.

Rachel Coelho: é quem sem sobra de dúvida faz uma das melhores ações para a cena em Maringá, por meio da Dois Coelhos Comunicação e Cultura. Além disso, ajuda a todos que precisam, conta ótimas histórias e diz o “aff, meu” mais fofo de toda a extensão do Contorno Sul. 

(Aliás, minha meta de vida é fazer Rachel Coelho ser o nome de um teatro ou de uma praça com um teatro em Maringá.)

Luigi Ricciardi: baita contista, professor, crítico e viciado em copinhas. O trabalho desenvolvido por ele no blog Acrópole Revisitada tem sido referência no Brasil. Vale ler e assistir as produções dele. Além disso, é um baita professor de inglês. Vale a pena se matricular com ele.

Marcos Peres: é meu professor de literatura latino-americana e companheiro de alucinações zuckermanianas. Autor de dois ótimos romances, é uma cabeça extremamente pensante e atuante para a cena em Maringá – apesar de nem sempre gostar de dar as caras publicamente.

Marco Hruschka: escritor que me deu as melhores aulas de francês que tive na vida. Inteligente, divertido – e vai bem no futebol. Assim como Luigi, é um cara que tem uma ótima didática e pode dar aulas no idioma de Baudelaire.

Que Maringá e eu possamos devolver a vocês o bem que cada um tem feito.

Quanto à Patti Smith e Robert Mapplethorpe, a amizade entre eles acabou no fim dos anos 1980, quando Robert morreu em decorrência da aids, mas as lembranças ficaram se tornaram um ótimo livro.

Não quero que meus amigos morram, claro; mas quero dizer que sei que eles se tornarão Pattis e Roberts, cada um a seu modo.

(E quando esse momento chegar, e vocês derem festas com cinco mil litros de chope, não se esqueçam de mim, canalhas!)

Enquanto o futuro não nos chega, mes amis, e o presente é essa roupa que ainda nos serve, não tirem da cabeça que o que eu quero dizer para cada um de vocês é: Morena – que em francês significa I Love You.

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