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20 de abril de 2024

Anotações sobre esses tempos fraturados


Por Victor Simião Publicado 19/03/2020 às 16h50 Atualizado 23/02/2023 às 17h20
 Tempo de leitura estimado: 00:00

O atual momento do mundo nos causa medo, pânico e incertezas em relação ao futuro. Em outras palavras, a mesma sensação que temos no dia da prova de moto no Detran. Acho que, por conta disso, não consegui escrever uma crônica como costumava fazê-lo. Em vez disso, anotei algumas frases que, se ao menos não ajudam a combater a difusão do vírus, espero, sinceramente, que te causem um ou outro sorriso.

É uma crônica fraturada, resultado dos nossos tempos fraturados, como diria Eric Hobsbawm (1917-2012).

Lave bem as mãos, passe álcool em gel e faça boa leitura.

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Decidi que, dado os últimos casos do Covid-19, chamarei, a partir de agora, o meu tio Fabrício de corona: causa medo em todo mundo, chega sem pedir licença e, quando menos se espera, já se instalou em sua casa.
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Em desespero, um amigo me ligou às 4h de uma quinta-feira. Disse não saber o que fazer, que está maluco, que chegou ao ponto final da vida. Perguntei, então, se ele estava com coronavírus. A resposta foi negativa. O motivo, embora mais simples, era nobre: o fechamento do comércio. “Nada de Bar do Zé, Tabuleiros, Atari e Divina Dose nos próximos dias”, ele disse. Propus, por conseguinte, que fizéssemos um brinde a distância. Ele, de lá; eu, de cá. “À saúde: que siga firme nos próximos meses. E ao fígado: o nosso velho amigo. E ao coronavírus: que se mantenha tão distante quando a sabedoria está do Palácio do Planalto.”
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Em um sonho, Bob Dylan caminhava em minha direção. Quando me viu, disse: “Hey, man”, estendendo a mão direita. Eu, por minha vez, olhei para ele e apenas acenei. Nada de cumprimentos, abraços. “Why, man?”, quis saber o Dylan. “The answer, my friend, is coming in the wind/The answer is coming in the wind.”
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Um desejo: que o coronavírus seja igual aquele colega de faculdade: vocês se vêem de longe e, em uma distância razoável, combinam de marcar algo. E esse algo nunca é marcado.
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Se encontrasse o gênio da lâmpada mágica e pudesse fazer três pedidos, não titubearia: o fim do coronavírus; a reabertura do Bar do Zé, Tabuleiros, Atari e Divina Dose; e um presidente de verdade.
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Uma mulher do nada me perguntou se eu achava que iria doer o que estava por vir. Eu disse que não. Ela acertou um chute em minha cabeça. Doeu.
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– Use a quarentena para ler todos os textos atrasados da faculdade, cara.
– Prefiro o corona!
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Alguém aí se lembra que a dengue está solta?
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Minha mãe, ao saber que o coronavírus havia chegado ao Brasil, me ligou. Meio sem fôlego, disse: Me diga que o coronavírus não chegou ao Brasil. Eu, então, falei: o coronavírus não chegou ao Brasil. Mas eu acabei de ver que o coronavírus chegou ao Brasil, ela disse. Eu, por minha vez, falei: mas você disse para eu não dizer que o coronavírus tinha chegado ao Brasil. Ela desligou o telefone em minha cara. Agora, está em quarentena em relação a mim.
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É necessário se imunizar, assim como é importante não se esquecer de usar camisinha.
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Se der tudo certo, logo nos encontraremos novamente no Bar do Zé, Tabuleiros, Atari e Divina Dose.
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Lave bem as mãos, passe álcool em gel e fique em casa.

 

Pauta do Leitor

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