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26 de abril de 2024

O debute


Por Rafael Donadio / Coluna "Ao pé duvido" Publicado 20/05/2019 às 19h30 Atualizado 22/02/2023 às 11h55
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Lembro até hoje do dia em que a família toda foi comprar o primeiro aparelho de som com CD. Não tinha nem 10 anos de idade. Lembro carinhosamente dos jogos que meu pai fazia no carro durante as viagens, geralmente em direção às praias de Santa Catarina. “Qual artista está cantando? De quem é a música?” Eu, pequeno, chutava os poucos nomes que tinha no repertório, a esmo: Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso, Elis Regina, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

A música está na minha vida desde que nasci. Nas prateleiras de vinil de casa, a coleção completa que meu pai ainda tem do Chico Buarque, talvez a maior referência dele. Nos sambas de breque que meu padrinho, Celso Barreto, canta como ninguém. No rock dos anos 1960 e 1970 ou no rock alternativo da década de 1990 que meus irmãos ouviam. É difícil dizer quando comecei a me interessar por música ou se teve um começo, mas posso dizer que dois discos foram decisivos nessa trajetória.

Sem sombra de dúvida, o primeiro tapa no pé da minha orelha foi escutar o álbum “Jardim Elétrico” (1971), do grupo paulistano Os Mutantes. Aos meus 12, 13 anos eu me perguntava como uma banda da década de 1960, que tocou durante a Ditadura Militar, poderia fazer tudo aquilo. Era loucura na década de 1990, é loucura ainda hoje, imagina há 50 anos atrás? Fundiu a minha cabeça. Por essas e outras que eu não tenho mais cabelo.

Depois disso, pesquisando a passos de formiga na internet discada, descobri os Tropicalistas. Descobri as pessoas e as músicas por trás dos nomes Caetano Veloso e Gilberto Gil. Me deparei com a loucura genial de Tom Zé e do maestro Rogério Duprat; com a potência, liberdade e extraordinário talento de Gal Costa e tantos outros.

Aí, veio a segunda paulada. Dessa vez, uma joelhada bem dada na nuca: “Da Lama Ao Caos” (1994), de Chico Science & Nação Zumbi. Com a antena fincada na lama do manguezal, captando toda e qualquer informação que vinha do Brasil e do mundo, os mangueboys mudaram o rumo da cena musical brasileira. Não existia nem microfone bom o suficiente para captar da maneira correta as alfaias que esses malucos resolveram juntar com o rock e o rap.

E o tapa não foi apenas estético. Todos esses artistas me ensinaram que na música há muito aprendizado, questionamento e contestação. Contesta-se o comportamento dito socialmente adequado, contesta-se a política, as regras, o uso de drogas, a homofobia, o racismo e qualquer tipo de preconceito. Contesta-se tudo o que está estabelecido, seja de forma poética e lírica, seja com três acordes e gritaria.

Ao mesmo tempo que a internet tornou mais fácil o acesso a qualquer tipo de música, há quem coloque sempre aquele mesmo vinil antigo para tocar e diga que não se faz mais músicas como antigamente. São geralmente as mesmas pessoas que escutam Pink Floyd há décadas e hoje se sentem traídos pelo posicionamento político da banda. Enquanto a web abriu diversas portas, tornou, ao mesmo tempo, tudo mais superficial, inclusive o consumo musical.

A música está sendo consumida como qualquer outro bem material. É óbvio que também é consumo, músico não sobrevive de luz ou de palmas. Mas além do entretenimento, música é puro sentimento e vem carregada de informação ou, no mínimo, de algo que te deixe com um ponto de interrogação na cabeça.

Para não permitir que essa relação se torne cada vez mais superficial, daremos um tapa bem servido na orelha, semanalmente. Pode chegar e colocar seus fones. Enquanto houver o que questionar, seguiremos com essa conversa Ao pé duvido.

“Monólogo ao pé do ouvido”, Chico Science & Nação Zumbi

Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui?
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
O orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia.

Foto da capa: Divulgação

Pauta do Leitor

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