Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso site, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar nosso portal, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

26 de abril de 2024

WiFi RALPH É UMA LIÇÃO DE AMIZADE


Por Elton Telles Publicado 05/01/2019 às 13h00 Atualizado 19/02/2023 às 14h22
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Em “Detona Ralph” (2012), o espectador adulto se deliciou com o tom nostálgico da animação ao ser transportado para dentro dos fliperamas. Lá, além de passear por um universo à parte, foi possível reencontrar alguns personagens de games que fizeram a infância de muita gente: Sonic, Street Fighter, Pac-Man, Super Mario Bros., Mortal Kombat, entre outras referências que mataram a saudade do público mais ligado nos jogos. De quebra, o filme também introduziu alguns personagens de games fictícios, alçando dois deles ao protagonismo: Ralph, vilão que destrói a cidade do jogo Conserta Felix Jr, e a adorável garotinha Vanellope, uma das pilotas do elenco de Corrida Doce.

A amizade entre os dois permanece intacta. O que muda do filme original em relação a este “WiFi Ralph – Quebrando a Internet” é a “fase”, visto que para manter o jogo Corrida Doce na ativa, a dupla vai precisar deixar a zona de conforto dos arcades e desbravar a desconhecida imensidão da World Wide Web.

Desta forma, a nostalgia de “Detona Ralph” cede espaço para a tecnologia, e os personagens de outrora dos games oitentistas são substituídos por logos/símbolos do Google, Facebook, YouTube, WhatsApp, Instagram, Twitter, Spotify, Amazon, entre tantos outros conglomerados que comandam a internet. Numa jogada esperta, o filme anterior que fazia os mais velhos suspirarem, agora conversa com todas as faixas etárias, principalmente com o público mais jovem e conectado.

E é preciso reconhecer que o roteiro de “WiFi Ralph”, pelo menos na concepção do universo web e a dinâmica do funcionamento transborda criatividade, como quando fazemos uma pesquisa no Google e o mecanismo vai oferecendo as palavras sem concluirmos a digitação, ou então como o público é direcionado às páginas, a intervenção chata dos pop-ups, o submundo obscuro da deep web e até a proliferação de vírus que danifica os aparelhos. O visual do filme também se revela bastante inventivo, trocando o aspecto old school e pixelado dos fliperamas pela alta resolução colorida, funcional e moderna da internet.

Para além da aventura dos protagonistas, recheada de cenas de ação dinâmicas, há algumas particularidades muito interessantes pontuadas pelo roteiro sobre o mundo da internet. Uma delas é o infame “15 minutos de fama”: o reconhecimento repentino de um viral que não sobrevive muito tempo e logo cai no ostracismo. Ainda tem a construção da imagem no mundo virtual, algo que nem sempre bate com a realidade. Na trama, o próprio Ralph é alvo disso em sua incursão na internet, passando de um “meme” adorado para um vírus poderoso de uma hora para a outra – essa inversão de papéis, aliás, faz uma rima muito bacana com o filme original, já que Ralph era um vilão que depois se torna uma figura querida por todos.

Enquanto o personagem-título se mostra pouco receptivo com a internet, do outro lado, temos o encantamento de Vanellope, cansada das mesmices da Corrida Doce e disposta a experimentar algo novo. Uma das melhores cenas do filme, inclusive, é a adaptação da garotinha quando se torna amiga das princesas da Disney, e aqui observamos algumas brincadeiras satíricas do estúdio para si mesmo em relação ao modelo padrão das suas animações clássicas. O auge da ironia é a inclusão de um número musical interpretado pela própria Vanellope – o que também se torna uma decisão bem amarrada do roteiro, considerando o desfecho da história e a noção de pertencimento que o filme busca tratar.

Adotando um lado mais afetivo, “WiFi Ralph” traça um belo retrato sobre a amizade usando Ralph e Vanellope como iscas. O quanto gostamos de um amigo a ponto da relação ficar tóxica e abusiva? A mensagem – surpreendente para um filme de veia comercial – é entregue de forma mastigada e exaustiva, sutileza nesse departamento passou longe, porém é compreensível pelo público infantil que a animação tenta abraçar. Compromete um pouco, mas a lição de manter um laço saudável de amizade e a consciência de que amar também é abrir mão é emocionante, daquele “jeitinho esperto” que conhecemos e que a Disney sabe fazer tão bem.

Sendo assim, mesmo imerso em um monte de autorreferências e piadas envolvendo a cultura pop e cibernética, é bom constatar que “WiFi Ralph – Quebrando a Internet” não é um “robô”, não se trata apenas de tecnologia e afins; há um coração pulsando forte ali.

Pauta do Leitor

Aconteceu algo e quer compartilhar?
Envie para nós!

WhatsApp da Redação