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19 de abril de 2024

OLHAR DE CINEMA 2019: OS NACIONAIS (1)


Por Elton Telles Publicado 08/06/2019 às 15h45 Atualizado 22/02/2023 às 19h21
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Pegar o catálogo de um festival de cinema com dezenas de opções interessantes, folheá-lo, escolher quais filmes assistir em detrimento de outros e ainda definir a sua própria agenda é uma tarefa árdua. E ao mesmo tempo, prazerosa. Sempre é preciso fazer aquela escolha de Sofia e sacrificar algum título que te despertou a atenção, porém não foi possível encaixar.

Dito isso, estou bem contente com 3 longas-metragens nacionais que vi nesses primeiros dias do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, e comento brevemente sobre cada um deles logo abaixo.

DIZ A ELA QUE ME VIU CHORAR
Direção: Maíra Bühler
Documentário devastador que acompanha a rotina do extinto Hotel Social Parque Dom Pedro, no centro de São Paulo, local mantido pela prefeitura como abrigo para dependentes químicos, sobretudo viciados em crack. Inclusive, essa é a primeira cena do filme que já nos pega de assalto: uma usuária acendendo o cachimbo. Ela é Benedita, uma das personagens que divide o teto com outras mulheres e homens, muitos deles tendo parte de suas vidas compartilhadas pela câmera invisível e confiável de Maíra Bûhler, que adentra o espaço com naturalidade e mostra momentos de convivência entre eles. O maior mérito de “Diz a Ela que Me Viu Chorar” consiste na pluralidade de histórias e como são narradas de forma respeitosa, sem qualquer sintoma de invasão. Ainda que seja uma breve passagem na vida destas pessoas – e certamente o recorte não as define –, testemunhar suas desilusões, desentendimentos, fracassos e sonhos aproxima o espectador e cria conexão. É impossível não se sensibilizar com este belo e triste registro.

 

BLOQUEIO
Direção: Quentin Delaroche, Victoria Alvares
Em maio de 2018, o Brasil foi afetado com a paralisação dos caminhoneiros que protestaram pelo preço abusivo do combustível. O documentário “Bloqueio” se passa em um dos 350 pontos espalhados pelo país, mais precisamente no interior do Rio de Janeiro. É um filme curioso e também problemático porque, entre outros motivos, o tema é muito recente e esta é somente uma pequena faísca da configuração incendiária que ainda transforma o nosso país. Particularmente, não aprovo o tom acusatório do filme, às vezes expondo ao ridículo os profissionais da rodovia. Aí entra a discussão que eles mesmos, aos berros e sinalizando “Intervenção Militar Já!”, faziam papel de idiotas. No entanto, em vez de mostra-los como vítimas de uma situação predatória e cidadãos perdidos como todo mundo, imerso em um cenário político totalmente contraditório e desconexo, “Bloqueio” opta pelo deboche, colocando até uma representante do PSOL para cagar regra e debater com os caminhoneiros.

Por outro lado, é um filme válido por expor uma minúscula fatia do tumultuoso ano que foi 2018 e as consequências trágicas que vieram meses depois. Ainda que defensores de pautas neoliberais, os caminhoneiros, a maioria homens sem estudo e solitários, estavam como todos os brasileiros sem saber pra onde ir e o que fazer. “Bloqueio” idem.

 

ILHA
Direção: Glenda Nicácio, Ary Rosa
Que filme curioso é “Ilha”! E que notório avanço dramatúrgico do casal Glenda Nicácio e Ary Rosa em comparação ao seu filme de estreia, o regular, porém importante “Café com Canela” (2018). A história se inicia com um rapaz baiano que sequestra um cineasta local para que ele participe como diretor do filme da sua vida, e aí realidade e ficção são mescladas dentro do enredo proposto, num exercício envolvente e muito bem amarrado de metalinguagem. Por vezes, o filme se comporta como uma espécie de jogo em que não conseguimos exatamente discernir o que é “real” e no que acreditamos como espectadores. Além do texto, esse “teste” também está presente nas questões técnicas do filme, como a montagem, o filtro de luz que muda repentinamente, o proposital reflexo da lente ou a câmera sem foco em algumas cenas. Guiado por dois ótimos atores (Aldri Anunciação e Renan Motta), “Ilha” é um convite ao desafio e também uma bela e rara amostra de histórias ignoradas, de pessoas igualmente ignoradas que aqui recebe o protagonismo. Nem que seja à força.

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