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18 de abril de 2024

MOSTRA SP 2019 – DIA #4


Por Elton Telles Publicado 25/10/2019 às 16h45 Atualizado 25/02/2023 às 05h36
 Tempo de leitura estimado: 00:00

A coluna Favor Rebobinar continua a cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo com resenhas abaixo de três filmes vindos do Brasil (“Querência”), Palestina (“O Paraíso Deve Ser Aqui”) e da Guatemala (“Tremores”).

QUERÊNCIA
Origem: Brasil
Direção: Helvécio Marins Jr.

Um dos fundadores do coletivo mineiro Teia, que movimentou a cena audiovisual e apresentou uma leva de realizadores talentosos, Helvécio Marins Jr. dividiu os créditos com Clarissa Campolina do belo e metafórico “Girimunho” (2011), seu primeiro longa-metragem ambientado no sertão de Minas Gerais. O espaço é o mesmo onde percorre a trama de seu segundo longa, “Querência”, sobre um vaqueiro que sonha em ser locutor de rodeio. Misto de ficção com documentário, o filme se vale da observação atenciosa para tratar de solidão, escolhas e pertencimento. Silencioso, não há grandes arroubos dramáticos na história, a não ser o olhar aproximado na vida de um homem comum e abandonado, cuja pequenez é ressaltada pelos planos abertos da paisagem rural.

Ao mostrar o dia a dia na roça, as atividades rotineiras do campo e o cuidado com os bichos, “Querência” estabelece um contraste entre homem e animal. Este acercamento fica mais evidente quando um dos personagens diz que “gado é igual gente, só não fala/mas quando você fala com ele, ele entende tudo”. Em um Brasil inflamado, o roteiro se estabelece em um pedaço de terra esquecido, onde prefere mostrar pessoas invisíveis e insignificantes para um país seletivo com a própria gente.

Quanto aos aspectos estéticos, vale destacar a fotografia de Arauco Hernandez Holz, o design sonoro e a trilha musical composta pelo grupo O Grivo.

 

O PARAÍSO DEVE SER AQUI
Origem: Palestina
Direção: Elia Suleiman

Um dos filmes mais engraçados do ano vem em formato de sátira exploratória do acamado Primeiro Mundo. Em “O Paraíso Deve Ser Aqui”, o cineasta Elia Suleiman também se coloca como protagonista em frente da câmera, emulando o melhor de Jacques Tati. Ele deixa o seu país de origem, a Palestina, para procurar um novo lugar para viver. Escolhe as cidades-modelos Paris e Nova York. Estando nesses lugares, ele observa como agente passivo os hábitos e costumes doentios das pessoas e organizações públicas que ocupam as metrópoles, substratos de uma cultura de vida absurda e naturalizada.

Funcionando quase como uma sequência de esquetes, o filme é conscientemente episódico ao mostrar as bizarrices da França e Estados Unidos, como a estrutura policial truculenta e higienista ou pessoas transitando pelas ruas portando armas de calibre grosso. Irônico a começar pelo título, “O Paraíso Deve Ser Aqui” é uma crítica mordaz a estes países desenvolvidos que se colocam em um pedestal e deferem discursos de ódio às nações árabes. Embalada em um humor refinadíssimo, trata-se aqui de uma clara obra fílmica de resistência.

Para além do sarcasmo bem construído, “O Paraíso Deve Ser Aqui”, menção honrosa no Festival de Cannes, é uma saga cômica que também investiga os significados do exílio e a busca por um lar.

 

TREMORES
Origem: Guatemala/França/Luxemburgo
Direção: Jayro Bustamante

Os embates entre homossexualidade e princípios religiosos não são novidade para ninguém. Muitos títulos, sobretudo enfocados na adolescência, trazem à tona este confronto, como “Orações para Bobby” (2009), “Boy Erased” (2018) e “O Mau Exemplo de Cameron Post” (2018). A diferença entre esses filmes, com tema tão recorrente no cinema contemporâneo, para o guatemalteco “Tremores” tem mais a ver com a fase de vida de seu protagonista e o que a sua natureza o afeta em termos de honra e família. Pablo tem 40 anos de idade, é casado e tem duas filhas. Ele vem de um lar estritamente religioso, e quando os parentes descobrem seus casos extraconjugais com outro homem, uma onda de embaraço acomete a todos e se inicia uma tentativa de conversão do rapaz.

Na abordagem da história, o diretor Jayro Bustamante revela segurança, ainda que não consiga desviar de alguns tropeços maniqueístas no desenvolvimento da trama. Imerso em uma fotografia predominantemente escurecida, “Tremores” é uma experiência bastante incômoda – e funcional – por assemelhar o fanatismo religioso com um sistema de aprisionamento e anulação do ser humano. Pior ainda é a amostra de como a homossexualidade é enxergada por diferentes gerações, o que não excetuam as crianças reproduzindo o mesmo discurso preconceituoso dos mais velhos. Diante do conservadorismo cada dia mais escancarado no mundo, este exemplar ganha camadas de um verdadeiro filme de terror.

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